domingo, janeiro 08, 2012

Alienação

Há duas formas de procurar a felicidade: imitar os deuses e vencer o destino ou aceitar a existência, tentando fruir os seus prazeres e minimizar as suas agruras. Na primeira via, está a busca do poder, a criação, o rito, a marginalidade e tantas outras vertigens; à segunda, pertencem todos os gestos do quotidiano, filhos da herança cultural da sobrevivência e das páginas do livro pessoal de cada um. Mas, como, nestas coisas, não é tudo a preto e branco: as duas vias, na verdade, entrelaçam-se, fundem-se e refundem-se, numa espiral contínua que é a história dos indivíduos e dos povos. No entanto, não parece haver qualquer equilíbrio entre estas duas forças, pois a sua acção e manifestação se processam de modo desproporcionado e instável, ora uma sobrepujando a outra, ora complementando-se, ora alternando-se.

Estranho e patético exercício (cómico mesmo, se visto por um hipotético deus), em que consciência e inconsciência se negam mutuamente, se atacam e fogem ao mesmo tempo.

Estas vias de alienação não passam de ferramentas do humano, para assobiar para o lado, para escapar por entre os pingos da chuva, para esquecer o horror da existência e a inevitabilidade da morte. Ou para sentir a vertigem do abismo.

Provar o gosto da morte ou a fusão no cosmos, perseguindo o esquecimento de si mesmo.

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