segunda-feira, outubro 11, 2004

Não resisti a uma trip

Metamorphose, Escher

Eschermorfoses

Metamorfoses múltiplas
Abrem uma dança reticulada no crepúsculo
Por losangos íngremes
Deixo-me escorregar até às estrelas
Regresso ao límpido xadrez
E atravesso um pântano com as salamandras
Branco e negro degladiam-se no ar
Zumbidos ensurdecedores estilhaçam o dia e a noite
E mergulham nas águas geladas
Peixes hirtos logo se elevam no ar
E voltam ao princípio para morrer
Loucas andorinhas fundem-se em drakkars
Regresso à claridade das trevas
Lá em baixo de novo os lúcios se fazem corcéis
Missivas triangulares adejam nos nimbos anunciando vôos impossíveis
Escamas e penas hesitam-se no lago
Colibris de amanhecer edificam-se na encosta
E descem à cidade mítica
No porto tisnado um tabuleiro se espraia por onde não fomos
Ainda
Sardónico um xeque-mate ri-se em caleidoscópio
Tranças de saudade adormecem em
Múltiplas metamorfoses

Bem-aventurado, Escher, pela viagem que fizemos

Mito, 11 de Outubro de 2004

quarta-feira, outubro 06, 2004

Somos um país de poetas

E como tal, avolumam-se as probabilidades de, tal como hoje, por aqui pontificarem umas titubeantes divagações poéticas.

Frescor

Frescor sempre perene
Nasce dos teus olhos Serpentina minha
Um instinto muito muito fundo espreguiça-se nos teus braços
Pirilampos de desejo rebrilham nos teus seios
Uma promessa de morte e ressurreição
Um convite de fusão com o universo e nada nada desejar
Há papoilas na tua boca ávidas de histórias
Não vás embora tão cedo minha Serpentina
Vem iluminar o meu carnaval

...

O luar nunca brilhou como hoje
E eu nunca voei tanto sem me cansar...

Mito, Abril de 2004

segunda-feira, outubro 04, 2004

Universo Paralelo

Começou hoje a Quinta das Celebridades, assim chamada porque vai proporcionar a fama a várias personalidades que nela vão participar, até hoje quase incógnitos cidadãos e cidadãs.
Uma das poucas já conhecidas figuras é a Cinha Jardim, recauchutada no rosto e com uns rutilantes marmelos silicónicos na exuberância do decote. A meio da conversa, lançou-se para o ar a hipótese de Cinha vir, um dia, a ocupar o palácio presidencial. Pressuroso, José Castelo Branco desfez-se em aplausos a tão feliz ideia, certamente já se imaginando mandatário nacional da candidatura.
Senti uma avassaladora vontade de me rebolar pelo chão em contorções de riso, mas… um frémito inquietante tolheu-me o gesto. Não te rias – disse-me a voz interior – não vês que atrais a desgraça? Tu não vês que o ex-namorado já foi a primeiro-ministro? E não faltou já quem propusesse Felipe Scolari para as mesmas funções presidenciais?
Estás proibido de teres ideias mirabolantes. Quantas vezes já te disse que neste universo paralelo onde caíste tudo pode acontecer?